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Ovino Pantaneiro e a produção de carne

*Fernando Miranda de Vargas Junior

RESUMO

As ovelhas Pantaneiras possuem algumas características peculiares, são animais lanados, mas não possuem lã na barriga e membros inferiores, são sexualmente precoces e não apresentam sazonalidade reprodutiva, produzem carcaças de alto rendimento, com acúmulo de gordura nos órgãos internos, possuem características intermediárias, entre ovelhas deslanadas e ovelhas produtoras de lã. São altamente adaptados às condições do Bioma Pantanal, pois sua formação genética é resultado de séculos de seleção natural desde a chegada dos primeiros ovinos com os colonizadores. Este material reúne informações de pesquisas realizadas nos últimos quinze anos com esse recurso genético. Destaca-se no texto os índices zootécnicos e as características produtivas da carne. A raça de ovinos Pantaneiros é versátil, ótima raça materna e uma opção genética para os pecuaristas, pois possui potencial produtivo e sua exploração econômica é viável.

DESENVOLVIMENTO

A ovelha Pantaneira pode ser designa como um animal adaptado localmente ou autóctone e vem sendo alvo de programas de conservação, devido ao risco de extinção de seus genes pelos cruzamentos indiscriminados realizados por desconhecimento e/ou ainda não concretização comercial como raça. Esses animais são descendentes das raças trazidas pelos colonizadores portugueses e espanhóis logo após a descoberta do Brasil.

Nas vastas fazendas do Pantanal, as ovelhas pantaneiras eram e em algumas ainda são criadas para subsistência, permanecendo livres durante o dia, mas reunidas para abrigo à noite para evitar ataques de predadores. Como pastam em grandes áreas, não apresentam verminose, alimentam-se de gramíneas nativas, mesmo na água, Brachiaria humidicula e se alimentam de plantas arbustivas, principalmente no período seco. Não há época de reprodução, os carneiros ficam o ano todo com as ovelhas. Não há manejo sanitário ou zootécnico, os cordeiros permanecem com suas mães até o desmame, sendo abatidos para consumo nas próprias granjas. Quando em excesso, são comercializados para terminadores fora das planícies, proporcionando uma fonte alternativa de renda aos pecuaristas.

A região do Pantanal compreende uma das maiores áreas úmidas contínuas do planeta, ocupa 1,76% do território brasileiro e foi influenciada por três biomas principais: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Seu clima é bastante característico, com índice pluviométrico em torno de 1.110 mm por ano, com temperatura média no verão de 33º C, e no inverno em torno de 16º C e umidade relativa em torno de 50% no inverno e 75% no verão.

Tal condição climática obrigou os animais a se adaptarem a viver em um ambiente encharcado, com lama, altas temperaturas (38 a 40º C) e insetos, durante a estação chuvosa. O Pantanal é considerado um bioma de transição entre o Cerrado e a Amazônia.

É um bioma que ocupa 138.183 km², abrangendo os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, subdivididos em 11 sub-regiões. A vegetação é variada de acordo com o período de inundação e o tipo de solo, argiloso ou arenoso. Durante a estação seca, muitas áreas ficam sem água para beber, toda a vegetação está seca e há variações de temperatura, como 38ºC durante o dia e 2ºC à noite. Os recursos forrageiros são abundantes nas águas, mas escassos na seca, época em que os animais se adaptam bem ao consumo de outras folhagens, como arbustos e árvores.

A ovelha Pantanera ainda vive em um ambiente inóspito, com a presença de predadores, como a onça parda (Puma concolor) e a onça Pintada (Panthera onca), jaguatiricas (Leopardus pardalis) e cães domésticos (Canis lupus familiaris), e, nas áreas alagadas (baía), sucuris (Eunectes spp) e jacarés (Alligatoridae). Há também aves de rapina que atacam os animais mais velhos e os jovens ao nascer.

Animais que não conseguem se adaptar ao ambiente não deixam descendentes, o que reforça a teoria da seleção natural. Um exemplo de adaptação fica evidente nas características da lã dessas ovelhas, que serve de protetor contra o sol, o frio e a água da chuva, mantendo-as sempre em homeostase. Há pouca ou nenhuma lã nas pernas, barriga e pescoço, locais que ficariam mais úmidos quando há necessidade de deslocamento em locais cheios de água e sujeira no caso de vegetação densa.

Desde 2005, são realizados estudos que buscam revelar o potencial desta raça para fins de carne e leiteira. A variabilidade genética observada nos trabalhos, que permite a identificação de animais superiores em desempenho, a fim de orientar a seleção de características fenotípicas de interesse econômico, e o estímulo à "conservação pelo uso", mecanismo relevante na tentativa de preservação. raças nativas.

PRODUÇÃO E SEUS ÍNDICES

A produção de carne ovina no Brasil tem avançado nos últimos anos, porém, ainda não é suficiente para abastecer o mercado brasileiro, nem em quantidade nem em qualidade. Não existe um sistema padrão de criação de ovinos que seja ideal para todas as regiões do país, sendo necessário considerar as diferenças entre clima, disponibilidade de alimentos e genótipos. Os sistemas de produção são extensivos, intensivos ou semi-intensivos. Sistemas extensivos com aspectos regionais também são chamados de sistemas tradicionais. Raças naturalizadas podem apresentar robustez. Dadas as condições em que esses animais estão submetidos ao Bioma Pantanal e ao sistema de produção tradicional, o Pantaneiro produz um bom cordeiro.

Os índices zootécnicos da raça ovina Pantaneiros podem ser observados abaixo.

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CARCAÇA E A CARNE DOS OVINOS PANTANEIROS

No Brasil, a comercialização de ovinos geralmente é realizada de acordo com o peso corporal do animal, que é um bom indicador do peso da carcaça fria, porém, o peso corporal por si só não é um parâmetro determinante de qualidade e rendimento de carcaça.

O índice de rendimento de carcaça aumenta com o aumento do peso corporal e da quantidade de gordura na carcaça, característica relacionada ao tipo de genótipo do animal abatido. Além disso, o rendimento de carcaça é um parâmetro importante para prever a porção comestível das carcaças, o rendimento dos cortes comerciais e, portanto, a lucratividade.

Em uma pesquisa realizada em 2014 avaliou-se um grupo de 30 ovinos Pantaneiros da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), avaliando pesos de carcaça e rendimentos de cordeiros, borregos castrados e fêmeas adultas de descarte. A diferença entre o peso corporal dos cordeiros e os animais mais velhos (borregos e ovelhas de descarte) ficou dentro do esperado e atingiu cerca de 12 kg. No entanto, apesar da diferença de peso antes do abate, ao observar os valores de peso absoluto e rendimentos em carcaça quente e fria, observam-se semelhanças entre as três categorias conforme a tabela abaixo.

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Os diversos estudos realizados até aqui envolvendo as características relacionadas a produção cárnica dos ovinos Pantaneiros são unânimes em destacar seu potencial como excelente.

Existem vários fatores que podem influenciar na qualidade da carne ovina, fatores relacionados ao animal (peso, idade, sexo, genótipo) e ao ambiente (alimentação, sistema de criação, estresse pré-abate, refrigeração, congelamento, tipos de embalagem) que afetam a carne e seus parâmetros de qualidade. A raça influencia na maciez, cor, teor de gordura intramuscular e composição mineral. Já o sistema de alimentação (pastagem, confinamento, forragem:concentrado, uso de aditivos e antioxidantes) influencia com maior destaque nas características envolvendo as  propriedades físico-químicas, qualidade sensorial e perfil de ácidos graxos de carne.

Abaixo resultados dos testes de qualidade da carne de cordeiros Pantaneros abatidos com diferentes pesos corporais.

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O peso ideal de abate para Pantaneiros em relação ao maior desempenho muscular e sem excesso de gordura para cordeiros machos seria entre 28-32 kg de peso corporal para machos e fêmeas. de 26 a 28 kg de peso corporal. Animais abatidos com pesos elevados em relação aos indicados acima apresentam grande acúmulo de gordura abdominal, o que é indicativo de ineficiência no sistema de produção.

Abaixo carcaças de ovinos Pantaneiros e o detalhe da área de olho de lombo (está área apresenta relação com o rendimento de cortes e músculo da carcaça).

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A carne desses animais possui características inerentes ao método de produção e ao tipo de alimentação. Do ponto de vista da produção de carne, o mais importante dos aspectos econômicos para a comercialização de animais de corte, verificou-se que ovinos Pantaneiros possuem carne de qualidade, mas ainda respondendo à intensificação produtiva. Os parâmetros analisados resultantes de diversas pesquisas mostram que os animais produzem carcaças de alta qualidade e altas taxas de rendimento.

nullZootecnista. Pós-doutor pelo Instituto Politécnico de Bragança – Portugal. Atualmente é Professor Associado IV da Faculdade de Ciência Agrárias da Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD, Dourados – MS. Participa da Rede MARCANE. Membro do comitê Diretivo da Federación de Ovejeros y Cabreros de América Latina (FOCAL). Líder do grupo de pesquisa Ovinotecnia – UFGD. Produção e Manejo de Ovinos, Sistemas de Produção, Nutrição de Ruminantes, Avaliação Quantitativa e Qualitativa da Carcaça e Carne de Ovinos, Comportamento Animal.

Material adaptado: VARGAS JUNIOR, FERNANDO M.; Souza, C.G.; Costa, J. A. A.; FERREIRA, M. Barbosa; Souza, M. R.; REIS, F. A.; Longo, M. L. Compendio de conservación y producción de recursos zoogenéticos locales: los ovinos Pantaneiro. ARCHIVOS LATINOAMERICANOS DE PRODUCCIÓN ANIMAL. , v.28, p.165 - 180, 2020. https://ojs.alpa.uy/index.php/ojs_files/article/view/2788/1297