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O Brasil pode produzir a carne que o mundo quer? | Seção - Bovinos

*Alexandre Rodrigo Mendes Fernandes

O Brasil se consolidou como um importante produtor de alimentos para o mundo. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento demonstram que o valor bruto da produção (VBP) agropecuária em 2021 deve ser 12% superior ao observado em 2020.

Nesse cenário, a carne bovina é um item que se apresenta como referência de faturamento e deve crescer cerca de 10% este ano.

A bovinocultura de corte brasileira é uma referência do termo “competitividade” no cenário internacional. Conseguimos produzir em condições adequadas nas diferentes regiões do País.  O desempenho observado ao longo dos anos reflete os resultados da incorporação de tecnologias e capacidade produtiva. No início dos anos 2000, o Brasil exportou cerca de 188 mil toneladas de carne bovina in natura, já em 2019 rompemos a marca de 1,5 milhão de toneladas. A desvantagem do Brasil em relação aos seus concorrentes no mercado internacional é a heterogeneidade do nosso produto, o que nos coloca como concorrente da Índia na disputa por mercados de carne commodity, como a China e os países do Oriente Médio. Os Estados Unidos e a Austrália, por exemplo, conseguem acessar de forma muito mais eficiente os mercados mais exigentes em termos de qualidade e que pagam mais pelas características atrativas. 

Mesmo com a grande diversidade de modelos de produção e, por consequência, falta de padronização da nossa carne, é importante ressaltar que nosso mercado interno está se tornando mais exigente e disposto a pagar mais por produtos diferenciados.  Essa evolução do consumidor brasileiro impulsiona a indústria no sentido da premiação por qualidade e o fortalecimento das relações comerciais com os pecuaristas, investindo nas chamadas “marcas de qualidade” e “cortes especiais”. Um dos reflexos mais marcantes observados no mercado da carne é a diminuição significativa de bovinos mais “erados” (6 e 8 dentes permanentes) nas linhas de abate, com carcaças mais pesadas e com melhor acabamento.

Pelo crescimento observado nas principais marcas e certificações nos últimos anos, podemos afirmar que não haverá retrocesso no mercado “gourmet”. Segundo dados da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil, publicados pelo Anuário DBO 2021, o programa de qualidade Nelore Natural abateu em 2020 143 mil cabeças, o que representa cerca de 23,6% a mais em relação a 2019. Outros programas de qualidade também apresentaram resultados animadores, como por exemplo o “Programa Carne Pampa”, que certifica animais das raças Hereford e Braford e o “Programa Carne Charolês Certificada” que registraram crescimento 6% e 27%, respectivamente.   demostrando a força desse segmento, mesmo em um período de crise. Esse cenário demostra a força desse segmento, mesmo em um período de crise econômica.

Além dos programas de certificação que direcionam seus critérios de bonificação para as características das carcaças e qualidade sensorial da carne, existem iniciativas produtivas que focam na questão do meio ambiente, um problema mundialmente discutido. O Conceito da “Carne Carbono Neutro”, desenvolvido pela Embrapa, tem como objetivo certificar a carne pela ótica da diminuição da emissão dos gases de efeito estufa. São modelos de produção intensiva que, por meio da integração lavoura-pecuária-floresta ou pecuária-floresta, tenham suas emissões de carbono neutralizadas.

Ser “mais competitivo” pode significar “produzir de forma eficiente produtos desejados pelo consumidor”. Sem dúvidas, o produtor brasileiro está muito mais atento e disposto a investir em técnicas de produção que estejam sintonizadas com as exigências de um mercado em evolução. O país está gradativamente se preparando para atender a demanda e abastecer o mundo com proteína animal de excelente qualidade e com a devida segurança do alimento.

null Zootecnista. Doutor em Zootecnia pela Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp, Jaboticabal - SP. Docente na Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, Dourados - MS. Responsável pelo grupo de pesquisa Carcaças e Carnes da UFGD.