Minha história com a Ovinocultura e a Produção de Carne Ovina
*Alda Lúcia Gomes Monteiro
Sou engenheria agrônoma formada na ESALQ em 1985 e a Zootecnia sempre me encantou. Comecei minha atividade junto à Zootecnia mais ligada a àrea de pastagens, através de meu Mestrado e Doutorado, o que me tem sido muito útil até hoje...minha história com a Ovinocultura iniciou na década de 90, quando comecei a atuar dentro de uma universidade privada no Estado de São Paulo. No decorrer do tempo, fui me envolvendo cada vez mais com a atividade, e a partir de 2002, quando iniciei a lecionar as disciplinas Ovinocultura e Caprinocultura na Universidade Federal do Paraná, minha atuação junto a ovinocultura foi se consolidando de forma crescente.
Desde o início de minha atuação no Estado, percebi que o Paraná apresenta clara aptidão para a produção de carne ovina e está em posicionamento estratégico, principalmente para a distribuição do produto aos principais centros consumidores do Brasil, como é o caso de São Paulo, embora a oferta de carne ovina no PR não atenda nem a demanda interna.
A partir dos anos de 2003/2004, tive a oportunidade de acompanhar algumas atividades pelo Estado do Paraná, através do Programa de Apoio à Estruturação das Cadeias Produtivas de Ovinos e Caprinos, implementado pelo Governo do Estado. O objetivo do Programa era desenvolver e viabilizar a ovinocultura e a caprinocultura de carne como atividades de importância econômica e social, buscando a estruturação das cadeias produtivas, principalmente através de organizações de produtores, associações e cooperativas. Acredito que esse programa poderia ser usado como um exemplo de que, políticas públicas associadas à organização e planejamento a partir de iniciativas privadas, especialmente coletivas, podem gerar resultado muito positivo e duradouro.
Desde os anos citados (2003/2004), houve um desenvolvimento muito interessante da ovinocultura para carne em Cooperativas e Associações no Estado, e algumas dessas organizações renderam frutos sólidos, como as Cooperativas Castrolanda (Cordeiro Castrolanda, Castro) e Cooperativa Cooperaliança (Cordeiro Cooperaliança, Guarapuava) entre outros exemplos importantes que se espalharam pelo Paraná e vem se consolidando ao longo dos anos, de forma crescente.
Nos anos de 2015 a 2016, realizamos um trabalho junto às regiões produtoras de ovinos ligadas às Cooperativas do Estado, e a nossa impressão positiva da atividade ovinocultura ligada à essas formas de organização, tornaram-se mais fortes. Nesse trabalho pudemos elencar aspectos de grande importância para a consolidação da cadeia produtiva através da ação cooperativista, tais como a garantia de comercialização e de pagamento, além de possibilidades de compartilhamento na compra de insumos e de assistência técnica.
Uma questão chave que me leva à considerar o Cooperativismo como uma estrutura organizacional muito oportuna para a cadeia produtiva da ovinocultura, é a tão falada “escala de produção”. Devido aos rebanhos pouco numerosos de ovinos, comumente encontrados nas propriedades produtoras do Paraná, assim como em vários outros estados do Brasil – inclusive no Nordeste brasileiro – a organização dos produtores em grupos pode facilitar as questões comerciais, conforme foi citado, e de logística de distribuição, fazendo com que os pequenos rebanhos não sejam uma limitação para a entrada no mercado formal.
Outro aspecto positivo é que a carne do cordeiro paranaense produzida em organizações cooperativas é um produto diferenciado em termos de marca e de qualidade, o que traz uma possibilidade de incremento do interesse pelo produto em grandes centros; especialmente se considerarmos o produto carne ovina como destinado à um grupo menor de consumidores e/ou à culinária gourmet, se comparamos com outras carnes como a bovina, suína e de frango. Costumamos usar o termo “nicho de mercado” para a definição desse ambiente de consumo para produtos cárneos de excelente qualidade e com menor oferta, termo que se adequa muito bem ao mercado da carne de cordeiro.
Por outro lado, o grande e constante desafio que se apresenta em todo esse período de minha experiência junto à atividade, é a adoção definitiva do controle zootécnico e a melhoria real da eficiência produtiva nas criações de ovinos, de forma a obter um efetivo resultado produtivo e econômico, e como consequencia, consolidar a atuação e o crescimento dessas organizações de produtores dentro da ovinocultura comercial.
Sendo assim, a idéia do produzir “mais com menos”, buscando eficiência e através de organizações, e ainda com apoio de políticas públicas claras - não paternalistas, nem assistencialistas - mas sim a partir de iniciativas e decisões participativas de grupos de produtores, tem demonstrado fortemente ser um caminho para a consolidação da cadeia produtiva e para a expansão dos mercados para a carne ovina em todo o país.
Engenheira Agrônoma pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Esalq | USP. Mestrado em Nutrição Animal e Pastagens - Esalq | USP. Doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp. Pós – Doutorado – Edinburgh - Escócia (SRUC) e Zaragoza - Espanha (UNIZAR).
Atualmente é docente titular na Universidade Federal do Paraná – UFPR.