Consumo de carne e degradação ambiental | Bovinos
*Melina de Oliveira Daud
As últimas informações, divulgadas massivamente, sobre consumo de carne bovina e degradação do meio ambiente tem, fundo e embasamento no relatório preliminar das Nações Unidas, elaborado para a COP26, de que a adoção de uma dieta com menos carnes e mais alimentos feitos de plantas ajudaria a combater a mudança do clima.
O documento é elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o principal órgão global responsável por organizar o conhecimento científico sobre as mudanças do clima e orientar as ações para combatê-las.
Os dados técnicos que são considerados no relatório, têm origem nas Contribuições Nacionalmente Determinadas NDCs e no Relatório SEEF 2020 - Análises das emissões brasileiras de gases do efeito estufa e suas implicações para as metas de clima do Brasil 2020.
Compreender a fundo estas informações faz todo o sentido no entendimento da origem das mensagens emitidas pela mídia. Neste âmbito me propus a compreender um pouco mais da realidade do setor agropecuário, o qual participo como profissional.
Baseada nas fontes da leitura do RelatorioSEEG2020 - Análises das emissões brasileiras de gases do efeito estufa e suas implicações para as metas de clima do Brasil 2020, o SEEG demonstra que o setor de agropecuária vem quebrando recordes de produção e reduzindo a intensidade das emissões, mas em números absolutos as emissões continuam a subir. Por isso, será preciso expandir a produção de baixo carbono, que atenda às metas nacionais e ao Acordo de Paris.
Irei me ater, de forma mais objetiva, as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), sugeridas para o setor agropecuário, considerando as atividades de pecuária e agricultura, descritas no Documento-base para subsidiar os diálogos estruturados sobre a elaboração de uma estratégia de implementação e financiamento da contribuição nacionalmente determinada do Brasil ao Acordo de Paris de 2017, são basicamente recuperação de pastagens degradadas (RPD) e adoção de sistemas integrados como a Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), em especial, que contribui também para a redução do desmatamento de novas áreas quanto para uma atividade agropecuária mais intensiva e viável econômica e ambientalmente.
Neste âmbito, faz-se necessário considerar o trabalho do plano ABC, o Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária com vistas ao Desenvolvimento Sustentável (2020-2030), liderado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), fundamental para o alinhamento entre produtividade e sustentabilidade no setor rural nacional. Estabelecido em 2010, seus resultados contribuíram com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, em particular nos ODS 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável) e ODS 13 (Ação contra a mudança global do clima).
Considerando bases científicas e tecnológicas, o Plano ABC reuniu tecnologias produtivas, que resultam em viabilização econômica e contribuem para a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Com isso, torna-se imprescindível o acompanhamento das ações e a verificação do avanço da adoção das tecnologias difundidas pelo plano ABC.
Destaca-se neste momento o balanço parcial publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), pelo Relatório do Resumo das emissões de gases de efeito estufa pelas tecnologias do Plano ABC, no qual há a indicação das metas já atingidas para o setor.
Destacando as duas principais metas consideradas acima temos os seguintes resultados:
Recuperação de Pastagens Degradadas (RPD) para a mitigação das emissões de GEE, temos que a adoção do RPD contribuiu com o sequestro entre 16,90 e 57,50 milhões Mg CO2 eq, o que correspondente ao cumprimento da meta para essa tecnologia de 18 a 62%.
Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) foi estabelecido como meta a expansão de adoção em 4 milhões de ha e com um potencial de mitigar entre 18 a 22 milhões Mg CO2 eq, os dados apresentados, apontam que a área de ILPF no Brasil é de 12,61 milhões de ha, com uma expansão de 5,83 milhões de hectares no período de 2010 a 2016. Esta expansão permitiu um atingimento de 146% da meta estabelecida para fomento da expansão do ILPF no Brasil, contribuíram com o sequestro de 22,11 milhões Mg CO2 eq, cumprindo com 111% do intervalo potencial de mitigação estabelecido como meta no Plano ABC.
Segundo dados do MapBiomas, estima-se ainda que no Brasil há 100 milhões de hectares de pastagens com algum grau de degradação, o que representa uma área igual à dos territórios da França e da Alemanha juntos. Essas pastagens degradadas, foram responsáveis pela emissão de 47,8 Mt tCO2e em 2019, ou seja, muito tem sido feito, mas o trabalho deve continuar e a principal forma de minimizar esses impactos é através da adoção de boas práticas agropecuárias para melhoria de qualidade dos pastos e a intensificação de atividades consorciadas em mesmas áreas, intensificando o uso da terra de forma racional e equilibrada.
Contudo, não poderia deixar de citar que de acordo com o Relatório de Análises das emissões brasileiras de gases do efeito estufa e suas implicações para as metas de clima do Brasil, desde 2015 o SEEG calcula e reporta separadamente o carbono emitido principalmente por pastagens degradadas e o carbono sequestrado por pastagens bem manejadas; entretanto, essas emissões e remoções não entram na contabilidade do inventário nacional.
Bem como, as remoções das práticas usualmente adotadas pela pecuária nacional como, associação e integração de atividades como lavoura, pecuária e floresta, práticas comuns como rotação de pastagem, utilização de suplementos alimentares que reduzem as emissões de metano na fermentação gástrica; e cuidados com fertilidade do solo, com uso de nutrientes e leguminosas.
Para o agronegócio, principalmente para a pecuária, é importante que as mesmas emissões e remoções, que já são monitoradas, sejam contabilizadas e citadas; visto que, à medida que as metas de recuperação de pastagens degradadas são atendidas, é fundamental para a divulgação real de uma atividade que é realmente sustentável.
Médica Veterinária formada pela Universidade Federal de Goiás, Pós - Graduação em Reprodução e Produção de Bovinos pela FACESPI, Pós – Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade pela FGV, elaboradora do EatBeef – GlobalCattle.